Em “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, o protagonista mantinha escondido um quadro no qual a sua imagem envelhecia enquanto ele próprio permanecia jovem usufruindo os prazeres da vida. É essa mesma técnica, de tapar o sol com a peneira, que o Facebook adota ao privilegiar as interações entre amigos e familiares -- em detrimento de conteúdos noticiosos -- para combater fake news e discursos de ódio. Quer dizer, então, que represar informação jornalística tornará o nosso feed mais sensato, pacífico e criterioso? Vale um emoji de Haha.
Em 2017, a companhia de Mark Zuckerberg foi acusada de ter propiciado a disseminação de notícias falsas que acabaram por contribuir para a surpreendente eleição de Donald Trump. Para completar, pela primeira vez, teve perdas expressivas de usuários diários nos seus principais mercados (Estados Unidos e Canadá) e o tempo médio de navegação caiu nos últimos meses do ano. A busca da redenção, priorizando publicações “amistosas” (com bebês, casais, viagens etc), desagradou investidores e empresas de conteúdo. Quanto a nós, seguidores, é difícil acreditar que um novo algoritmo melhore automaticamente nosso comportamento.
Parafraseando Renato Russo, nos deram o Facebook e vimos um mundo doente. Nele, agimos com um senso ético e empático peculiar -- e perigoso. Quem, em sã consciência, gritaria da janela de casa os impropérios que digita num post? Teríamos coragem de debochar, em praça pública, da cor, gênero, credo ou condição econômica de outra pessoa? E discutir política, então? Correríamos o risco de um bate-boca agressivo no trabalho, ônibus ou padaria? Nas redes sociais, soltamos o verbo (potencialmente um discurso de ódio) antes mesmo de terminar de ler o texto (potencialmente falso) que inspirou nossa indignação. E salve-se quem puder.
Em 2017, a companhia de Mark Zuckerberg foi acusada de ter propiciado a disseminação de notícias falsas que acabaram por contribuir para a surpreendente eleição de Donald Trump. Para completar, pela primeira vez, teve perdas expressivas de usuários diários nos seus principais mercados (Estados Unidos e Canadá) e o tempo médio de navegação caiu nos últimos meses do ano. A busca da redenção, priorizando publicações “amistosas” (com bebês, casais, viagens etc), desagradou investidores e empresas de conteúdo. Quanto a nós, seguidores, é difícil acreditar que um novo algoritmo melhore automaticamente nosso comportamento.
Parafraseando Renato Russo, nos deram o Facebook e vimos um mundo doente. Nele, agimos com um senso ético e empático peculiar -- e perigoso. Quem, em sã consciência, gritaria da janela de casa os impropérios que digita num post? Teríamos coragem de debochar, em praça pública, da cor, gênero, credo ou condição econômica de outra pessoa? E discutir política, então? Correríamos o risco de um bate-boca agressivo no trabalho, ônibus ou padaria? Nas redes sociais, soltamos o verbo (potencialmente um discurso de ódio) antes mesmo de terminar de ler o texto (potencialmente falso) que inspirou nossa indignação. E salve-se quem puder.
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